Fernando de Noronha, por Sig Bergamin

ESCRITO POR: quarta-feira, janeiro 21, 2015 , ,

Capa do livro Adoro, de Sig Bergamin
  Em um domingo de dezembro/2014, zapeando pela TV o programa de Regina Casé conseguiu me prender a atenção pois lá estava Sig Bergamin. O arquiteto e decorador é autor entre outras obras do livro "Adoro!" que não poderia ter outro nome pois é folhear e se apaixonar pelas lindas imagens antes mesmo de ler e ficar ainda mais encantada.
  Tenho o meu desde seu lançamento em 2002 e, vendo o autor, me deu aquela enorme vontade de reler o livro onde encontrei o texto que reproduzo abaixo.


Fernando de Noronha

       Foi amor à primeira vista: eu, que já havia visto tanta coisa sobre a terra, lá me encantei com o que havia sob a água. Noronha é hoje a minha praia, longe que seja, mas quem se importa com distância? Se achasse que longe fosse empecilho, não teria chegado nem a Rio Preto...
         Durante muito tempo frequentei Camburi, no litoral norte de São paulo. Já tinha, nessa altura, outras preferências de praias bacanas mundo afora: Bali, Puket, Cote d'Azur... cada uma com seus encantos, mas nenhuma delas com aquela natureza intocada e selvagem de Fernando de Noronha, nenhuma com aquele fundo de mar tão exuberante!
      Pelo menos quatro vezes por ano ponho sunga, chinelos, bermuda e camiseta em um uma malinha, arrumo o equipamento de mergulho e aterrisso lá, onde tudo me agrada. Se não dá para mergulhar - meu prazer - máximo - , faço caminhada, vou à praia, visito meus amigos, Zé Maria, Sérgio Salles, José Gaudêncio, jogo conversa fora, danço forró no bar do Cachorro. Conheço e sou praticamente amigo de todo mundo. Já me hospedei em casa de muita gente e sinto-me recebido de braços abertos.
         A conquista do mar, entretanto, foi um pouco mais lenta. Uma história de contemplação, flerte, namoro, aproximação, afastamentos... Cresci menino da terra, por isso não é fácil enfrentar o mar e se entregar sem restrições; demorou, mas quando consegui a entrega foi total. Na primeira vez, em 1999, mergulhei com o instrutor e um monte de outros turistas. Uma deliciosa farofada subaquática! gostei tanto que, ao voltar a São Paulo, entrei na escola de mergulho e saí com carteirinha de mergulhador. Mais confiante, cada vez que ia para Noronha desejava ir mais fundo. Comecei descendo quinze metros e hoje já chego aos quarenta e cinco. Não sei se aina é o meu limite...
       Perdi o medo de tubarão, cavernas, peixes estranhos. Mergulho com calma para apreciar e surpreender-me com a gama infinita de cores dos corais, seus tons de amarelo e vermelho que me deixam extasiado. Nunca me canso de ver aqueles peixes multicoloridos e suas formas diferentes de tudo o que a gente conhece e absolutamente perfeitas, proporcionais. É uma viagem alucinante e alucinógena! Com minha velha e arrraigada mania de fotografar tudo, tornei-me paparazzo do fundo do mar. Já perdi umas três câmeras nessas empreitadas, nadando cada vez mais fundo atrás de um peixe desconhecido.
      Trago comigo marcas da ilha tatuadas no corpo: um golfinho no pulso e um sol nas costas.; Ambas são discretas, mas estão ali para me lembrar de que existe um paraíso onde posso me refugiar quando bate o cansaço, o estresse, o enfarto da cidade grande. E volto para lá com prazer sempre renovado. Faço parte do elenco fixo de entrevistados da TV Golfinho, como salada de tomate verde, que jamais comeria em casa, amo ver o pôr-do-sol no mirante, comer queijo coalho assado, preparar sushi no barco com peixe pescado na hora... Antes que me crucifiquem, aviso que só pesco em épocas permitidas e jamais pesquei camarão e lagosta. Preservo o país que me acolhe.
    Dei também minha contribuição para tornar Noronha mais bonita, se isso ainda é possível. Pintei todo o centro histórico com cores bem brasileiras, fortes, vibrantes. Quando pude encontrar a documentação antiga, preservei a cores originais; quando não a encontrei, usei minha imaginação. O resultado? Só inda lá para conferir.
         Esse meu encontro com Noronha me deu outra perspectiva do mundo e da vida. Eu, bobinho, imaginava que passeio era Paris, Nova York, Oriente... Realmente são lugares maravilhosos, mas quando quero descansar a ilha é meu porto seguro. Não a troco por nada. Afinal, não existem dois paraísos sobre a Terra!

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1 comentários

  1. Que legal, Silmara! Eu o conhecia como arquiteto e decorador. Não sabia do livro... texto gostoso!
    Abraço!

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