Quantos dias devemos tirar de férias?
Você tem a sensação de que sair de férias é maravilhoso mas que voltar para casa também é muito bom? Seb Murray escreveu para a Folha de São Paulo para explicando o momento em que as férias dicam entediantes (sim, é possível) e queremos voltar para casa.
Sair de férias é maravilhoso. Só de planejá-las já ficamos felizes. Sem contar que os dias de folga podem reduzir o risco de ataque cardíaco e depressão. E, quando voltamos ao trabalho, provavelmente estamos mais engajados e criativos.
Mas quantos dias devemos tirar? Será que podemos aplicar um conceito econômico chamado bliss point (ponto de felicidade), para determinar a duração perfeita das nossas férias, seja festejando em Las Vegas ou acampando nas montanhas?
O conceito de "ponto de felicidade" tem dois significados diferentes, mas relacionados. Na indústria de alimentos, o termo quer dizer identificar a combinação perfeita de sal, açúcar e gordura para incluir nos produtos, de modo que fiquem irresistíveis e deixem os consumidores apaixonados.
Mas também é um conceito econômico que se refere ao nível de consumo em que ficamos mais satisfeitos, o pico a partir do qual qualquer consumo adicional nos deixa menos satisfeitos.
Mas como isso funciona quando o assunto é tirar férias? Muitos de nós já vivenciamos esse ponto em que, embora tenhamos nos divertido muito, estamos prontos para voltar para casa. É possível que, mesmo relaxando na praia ou desbravando novos lugares, a gente possa enjoar de uma sensação boa?
Não dá para ter certeza, mas os psicólogos acreditam que a dopamina - um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer que o cérebro libera em resposta a atividades humanas recompensadoras— desempenha um papel nisso. Quanto mais complexa for uma experiência, maior é a probabilidade de ficarmos "repletos" de dopamina. Se a experiência é unidimensional, você se cansa muito rapidamente. Mas, se for variada e desafiadora, continuará sendo interessante. E o 'bliss point' será protelado, afirma.
Ele explica que a nossa expectativa em relação a experiências prazerosas aumenta os níveis de dopamina, assim como a sensação de familiaridade —voltar a um hotel ou lugar que você gosta, por exemplo. A superfamiliaridade, por outro lado, reduz o prazer à medida que ficamos entediados.
Há, no entanto, poucas pesquisas sobre o tema, a maioria dos estudos sobre felicidade nas férias analisaram viagens curtas, de não mais do que duas semanas. Existem algumas teorias de por que o bliss point pode ocorrer. A primeira argumenta que simplesmente ficamos entediados, da mesma forma quando ouvimos a mesma música repetidas vezes.
Um outro estudo mostrou que entre um terço e pouco menos da metade do aumento da felicidade nas férias é proveniente da novidade ou da sensação de que os estímulos são diferentes da vida cotidiana.
Em viagens mais longas, há mais tempo para nos acostumarmos aos estímulos ao redor, especialmente se ficarmos em um único destino e praticarmos atividades parecidas - por exemplo, em um resort.
Então, mais uma vez, as pessoas podem simplesmente variar as atividades durante as férias para evitar o tédio. É possível aproveitar as folgas por várias semanas se tivermos liberdade e meios para escolher o que fazer.
O estudo mostrou que há vários caminhos para chegar ao "ponto de felicidade" neste caso, incluindo atividades que nos desafiam e proporcionam oportunidades de aprendizado, assim como as que têm propósito e significado, como o trabalho voluntário.
Se atividades distintas deixam pessoas diferentes felizes, então, os "pontos de felicidade" provavelmente são bastante individualizados. Assim a programação pode ser determinante para os "pontos de felicidade" durante as férias.
Algumas atividades são fisicamente exaustivas para a maioria das pessoas, como caminhadas nas montanhas. Outras, como cair na farra em Las Vegas, são cansativas mentalmente e fisicamente. Se ficamos esgotados nas férias, os pontos de felicidade podem ocorrer em níveis mais baixos do que as pessoas esperam.
Mas as diferenças individuais são enormes: algumas pessoas podem achar que passar férias relaxando na praia é enfadonho, outras que uma cidade seja estimulante, mesmo com a aglomeração de gente, o barulho e as luzes noturnas, capazes de afetar o sono e causar estresse físico, emocional e ansiedade em muita gente.
A boa notícia, no entanto, é que existem muitas maneiras de adiar o ponto de felicidade, mesmo que não saibamos exatamente em que momento isso acontece. Planejar para onde você vai, quais atividades vai fazer e com quem é uma maneira de descobrir seu "ponto de felicidade" individual.
Ondrej Mitas, pesquisador de emoções na Universidade de Breda, acredita que todos nós subconscientemente atendemos nossos "pontos de felicidade" planejando o tipo de férias e atividades que achamos que gostaríamos pelo tempo que achamos que preferiríamos.
É por isso que as férias em família ou em grupo — que combinam os desejos de várias pessoas — podem ter "pontos de felicidade" mais curtos, já que não conseguimos priorizar nossas necessidades individuais, diz ele.
"Será preciso uma profunda reflexão, tentativa e erro para saber o que nos faz felizes e por quanto tempo, que é a chave para postergar o ponto de felicidade das férias."
Adaptado de https://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/carreiras/2019/07/1988214-quantos-dias-devemos-tirar-de-ferias.shtml - publicado em 06/07/2019
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