Turistas em Sertãozinho: lenda urbana
O texto abaixo é de minha aluna Josiane Cristina Alves, do 3º ano do Ensino Médio. É um artigo de opinião sobre o sonho (imposível) dos governandtes de Sertãozinho em transformá-la em cidade turística. Foi produzido para a 3ª Olimpíada de Língua Portuguesa, que acontece de 2 em 2 anos e já é semifinalista. No final de novembro iremos para Belo Horizonte onde conheceremos os alunos finalistas que em dezembro participam do encerramento da OLP em Brasília.
Não conheço BH, mais uma vez a OLP me proporcionará um novo lugar para escrever no blog. Em 2010, acompanhei uma aluna classificada na categoria crônica à Curitiba e depois à Brasília onde o texto ficou coma medalha de prata. Que venham outras Olimpíadas.
Turistas
em Sertãozinho: lenda urbana
Sertãozinho é a capital mundial do setor
sucroalcooleiro. O que a torna grande, contradizendo o nome diminutivo, são 7 usinas e destilarias de açúcar e
etanol, além de 550 indústrias ligadas ao agronegócio da cana-de-açúcar.
Feiras como Fenasucro&Agrocana e ForInd
são referências em tecnologia e atraem visitantes de diversos países.
Consequentemente desenvolveu-se o ‘turismo de negócios’ que lota hotéis durante
a semana com empresários e profissionais da área.
Entretanto, nos últimos anos estão sendo
feitos investimentos abundantes em ‘turismo de lazer’. Segundo Marcos
Favaretto, Diretor de Turismo e Cultura de Sertãozinho, “a cidade precisa
investir para que os hotéis fiquem lotados também aos finais de semana”. Porém,
para que uma cidade sem atrativos naturais se torne turística é preciso
fabricar as atrações. Somados, são mais de 15 milhões investidos em ‘obras
turísticas’ como o pórtico na entrada da cidade (350 mil), Cristo Redentor (4
milhões), praia artificial (8 milhões) e Trem da Cana (3 milhões). Esse tipo de
turismo traz benefícios para a população?
Do meu ponto de vista, o bem estar dos
sertanezinos foi colocado em segundo plano em favor da estética. As obras inacabadas
e consideradas desnecessárias têm desagradado aos moradores.
A função do pórtico recém-inaugurado, por
exemplo, não ficou muito clara. O prefeito diz que “o objetivo da obra é deixar
a cidade mais bonita, acolhedora e segura para moradores e turistas”. Não
sabemos a quais turistas ele se refere; quanto à segurança, o comentarista do
Jornal da Clube, Antônio Vicente Golfeto, analisa: “...é como uma casa com
quatro portas que, por questão de segurança, se fecha uma; como se nas outras
não fosse possível entrar ninguém. Uma das entradas com as câmeras irá captar
informações, perfeito! Mas precisa ser nas quatro entradas de Sertãozinho, fora
isso fica meio manco.”
Estudos para a instalação do Trem da Cana, iniciaram-se
em 2009 e o primeiro passeio turístico até o vizinho município de Pontal está previsto
ainda para 2012. Ao que tudo indica, pelos trilhos restaurados passarão trens
de carga. Isso preocupa àqueles que residem nas proximidades da linha pelos
inconvenientes que podem ocorrer, como o fechamento da rua dificuldando a
ligação do bairro Jardim Alvorada com o centro da cidade.
Desde 2008, o Cristo Redentor cria
expectativas por ser maior que o Cristo carioca. A notícia foi publicada até no
The Sidney Morning Herald, da Austrália. Porém, há 4 anos a estátua aguarda ao
lado do pedestal inacabado. O atraso desvia a atenção de uma polêmica que
permeou a construção do Cristo original: o desrespeito ao art. 19º da
Constituição Federal, que indica o desejável distanciamento entre governo e
religião. A ostentação desse monumento fere nossa lei maior, pois não existe
neutralidade alguma quando se utiliza impostos pagos por pessoas de diversas
religiões para a construção de um símbolo católico.
Temos ao menos uma obra pronta para receber
turistas, a praia artificial. Com piscina, churrasqueiras, quadras
esportivas... e o melhor: tudo grátis. Em finais de semana ensolarados, o parque
recebe até 7 mil visitantes, sendo 70% de cidades vizinhas. Ou seja, é mantido com
dinheiro dos sertanezinos e bem pouco frequentado por eles.
Com IDH de 0,833, não há como dizer que saúde
e educação vão mal em Sertãozinho. Contudo, se a sobra orçamentária permite
extravagâncias, que haja consentimento da população para realizá-las. Com
certeza, a preferência seria pela construção de UBSs, atendimento médico 24h,
maior rapidez nos agendamentos de consultas e valorização dos profissionais da
saúde. Parte do dinheiro vem do Ministério do Turismo, o que só agrava o
absurdo de se investir em uma cidade sem potencial turístico quando as obras
para a Copa do Mundo de 2014 estão atrasadas em todo o país.
Assim, tais obras turísticas são desrespeitosas
com a população e inúteis já que ninguém trocará a vista de uma das Sete
Maravilhas do Mundo para avistar os canaviais. É válido que se invista na infraestrutura
para bem receber quem nos visita por nosso forte potencial econômico e
produtivo. E nos finais de semana que divirtam-se com suas famílias em Ipanema
ou Copacabana.
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1 comentários
Hehe... muito bom! Pensamento crítico, linguagem incisiva.
ResponderExcluirQue ótimo que irão a BH! Faz uns 5 anos que lá não vou e sinto saudades.
Se houver oportunidade, não deixe sem visita o Mercado Central e (no domingo) a Feira na Afonso Pena - a-do-ro!
E você? O que pensa sobre isso?
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