Brasília de Dimenstein

ESCRITO POR: quarta-feira, novembro 17, 2010 ,

Brasília desde a Torre de TV
Vista desde a Torre de TV
Eu adorei Brasília. (ponto final)
Fiz meus comentários positivos sobre a capital brasileira em outro post do blog e um "anônimo" deixou um recado sugerindo que eu devo estar louca. Respondi que ser "turista" no DF é diferente de ser "morador" e citei os "Ds" de Gilberto Dimenstein.
Retomei o assunto porque estou muito feliz em voltar lá. Para mim, Brasília foi o deslumbramento que eu esperava ver na arquitetura, nos jardins, no plano piloto. Devo ter passado tanto entusiasmo com a possibilidade da viagem que minha aluna disse depois da cerimônia de premiação da OLP:

_ Se eu não ganhasse essa medalha de prata, eu iria chorar.
E eu respondi, muito brava:
_Como assim? Depois de tudo que conversamos?! Então se você não ganhar a medalha de ouro, que só 5 estudantes do país terão, você vai chorar??
_Não, professora! Mais aí eu já vou estar em Brasília.

Achei pertinente postar aqui o texto de Dimenstein para reafirmar que concordo com ele:

Os "Ds" de Dimenstein

   Dizem que o morador de Brasília passa por quatro "Ds": deslumbramento, decepção, desespero e, por último, demência. O estágio da demência se manifesta quando o indivíduo passa a gostar da cidade e não se muda mais daqui. Felizmente, estou livre dessa sequência de "Ds": sou um apaixonado pela cidade, apesar das minhas raízes paulistanas.
    O leitor talvez imagine que sou maluco, mas, numa situação normal, não deixo Brasília por nenhuma cidade do mundo -nem Roma nem Jerusalém, outras paixões. Por que gosto de Brasília? Sinceramente: não sei. Só sei que gosto. Claro que minha Brasília não é a cidade dos políticos, dos ministros, dos barões ou lobistas. Essa é a cidade do poder que, de fato, fede na sua bajulação.
     Tirando a péssima paisagem composta pelos homens do poder, adoro esse contato próximo com o céu sempre azul, como se estivéssemos protegidos por uma cúpula. Quando vier a Brasília, preste atenção: o céu é algo próximo, parece ser possível tocá-lo. Adoro a sensação de sempre ter vista para o infinito, como se não houvesse limites. Adoro (e muito) as esculturas do Oscar Niemeyer, perdidas neste cenário. Os críticos afirmam que os prédios do Niemeyer são ótimos para ver e péssimos para habitar.
     Como não sou e não quero ser governo, esse problema não me toca.
      Brasília tem todos os dias um delicioso jeito de final de sábado, de calma permanente. Não temos trânsito, o ar é limpo. Vive-se aqui o mundo e o Brasil, por sermos o centro. Mas, ao mesmo tempo, partilhamos da intimidade de uma pequena cidade de interior.
     A escritora Isabel Allende diz que nossa cidade é onde estão enterrados nossos mortos. Digo que nossa cidade é onde nascem nossos filhos; os meus nasceram aqui e como eu adoram essa abundância de espaço, que me faz lembrar a imagem que tenho da alma brasileira, generosa em seus limites.
     Fico aborrecido com as críticas contra a cidade. Atacam: aqui moram ladrões. Só esquecem de dizer onde nasceram, foram criados e aprenderam a roubar. Não dizem que, acaba a semana, voltam para suas cidades. Outros garantem que a solução estaria na volta da capital para o Rio; parecem se esquecer que nenhum lugar se deteriorou tanto como o Rio. Portanto, a culpa não é da capital, mas dos homens. Talvez o leitor imagine que estou, na verdade, no estágio da "demência". Quem sabe. O fato é que desde janeiro, quando me decidi mudar para Nova York, já estou com saudades.

Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo

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