Quem é você no carnaval?
O OUTRO
Ele desapareceu no sábado passado e só reapareceu ontem, com olheiras mas sorrindo. A família atônita. Onde tinha andado?
_ Na Bahia.
_ O quê?!
Tinha pulado sem parar o tempo todo e acabado o carnaval numa delegacia de Salvador. (Em vez de pagar um avião, tentara sequestrar um trio elétrico para trazê-lo de volta, ameaçando o motorista com um copo quebrado. Felizmente o copo era de papel e ele fora solto de madrugada.) E agora estava ali, ainda de sandálias, bermudas e camiseta do Chiclette.
A mulher mal podia falar.
_ Mas você, você...
Finalmente conseguiu dizer: “Mas você em casa é um santo!”.
Bom, talvez não santo. Mas um homem sério, sóbrio, comedido. Por que virara outro na Bahia?
E então ele disse a frase:
_ O outro é este. Eu ainda estou na Bahia.
E foi dormir, e está dormindo até agora. E deixou a mulher, os filhos, a cozinheira e o cachorro estarrecidos. Descobriram que estão vivendo com um desconhecido. Um homem exemplar, salvo por esse detalhe: não é ele.
A questão é filosófica. Somos o que somos ou o que dizemos que somos? Ou, em termos ontológicos, o Homem é o que é o ano todo ou é o que é no Carnaval da Bahia?
Enfim, a família optará pelo pragmatismo. Afinal, o homem com quem vive é quem assina os cheques, seja ele quem for.
Luis Fernando Veríssimo
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2 comentários
Hehe... mto bom o texto! Como não sou amiga de Carnaval, tenho que me conformar em ser quem sou - o quem nem sempre é muito fácil definir... rs
ResponderExcluirAbraço!
Ah!... coloquei seu blog na lista dos 5 que recomendo todos os meses (final da página à direita)
;]
Nunca deixei de ser o que sou,rsrs...Só viajo virtualmente, de carona com as amigas! Mas conheço algumas pessoas que são turistas na própria vida,rsrs...
ResponderExcluirEstamos juntas no Minas de Mim e adorei a indicação da Jussara!
Bjs,Ana
E você? O que pensa sobre isso?
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