Resorts flutuantes - Martha Medeiros
Gosto muito da autora Martha Medeiros, assim como gosto de cruzeiros e de textos polêmicos, pois é preciso considerar os dois lados de uma questão para se formar uma opinião. Por isso, mesmo discordando da opinião da autora sobre os cruzeiros marítimos, indico a leitura a seguir.
Piscina do MSC Preziosa |
Tanto a Veja quanto a Isto É publicaram reportagens sobre os supertransatlânticos que estão invadindo os mares do planeta, fascinando turistas e agentes de viagem. Os barcos são de matar de inveja o Titanic. Alguns têm 18 andares, o que raríssimos prédios de Porto Alegre têm. Neles encontram-se butiques, restaurantes, uma dúzia de piscinas, bares, quadras poliesportivas, cassino, pista de cooper, rinque de gelo, teatros, biblioteca, discoteca, parque de diversões, capela, spa e até um campo de golfe. É tudo o que um Sheraton quer ser quando crescer.
Fico enjoada só de imaginar, mesmo sabendo que esses meganavios não jogam, a menos que sejam atingidos por um tornado. Admito que cruzeiros marítimos alimentam fantasias de amores clandestinos, jantares de gala, excursões por camarotes alheios, paixões explodindo no convés. Viajei num transatlântico, mês passado, lendo o excelente A casa do poeta trágico, de Carlos Heitor Cony, mas só embarco em ficção. Ao vivo e a cores, nem caiaque me atrai.
Posso estar enganada, mas viajar de navio deve ser o mesmo que viajar de hotel cinco estrelas. Você faz o check-in na portaria, recebe as chaves de seus aposentos e "teje preso": ninguém entra, ninguém sai. Ao se afastar lentamente da terra firme, você ainda mantém uma certa ilusão de que vai descansar, mas em seguida começa aquela obrigação infernal de se divertir. Toda a infraestrutura é voltada para o lazer. Antes de aportar no primeiro cais, você terá que nadar, dançar, jogar bingo, fazer sauna, apostar na roleta, comer, beber, comprar, malhar, tirar fotos e ser feliz. Não é uma cruz, mas você estará condenado a fazer tudo isso olhando para os mesmos rostos por semanas a fio. Uma Alcatraz de luxo.
Viajar de navio já não é programa de idoso: crianças e adolescentes estão sendo sutilmente atraídas para esse confinamento. Até a Disney já tem sua linha de cruzeiros, com barcos cheios de efeitos de computador. Pobres pais. Como convencer as crianças de que não há nada mais romântico do que uma viagem de trem, nada mais prático do que um boing e nada mais independente do que alugar um carro e criar o próprio roteiro? O que pode substituir uma bicicleta na Holanda, uma lambreta no sul da Itália e o metrô para percorrer o underground londrino? Isso sem falar nos próprios pés, melhor meio de transporte para quem quer conhecer de verdade algum lugar, seja ele qual for.
Talvez eu não tenha pego o espírito da coisa, mas não importa. Sigo reticente quanto a esses cruzeiros que enquadram os passageiros numa excursão, forçando a convivência pacífica. Transatlânticos parecem amostras grátis do mundo. Prefiro o original, que é maior e não afunda.
Outros textos de Martha Medeiros:
- Viajar para dentro
- A capacidade de se encantar
- Pequenas felicidades
- Um universo chamado aeroporto
Fico enjoada só de imaginar, mesmo sabendo que esses meganavios não jogam, a menos que sejam atingidos por um tornado. Admito que cruzeiros marítimos alimentam fantasias de amores clandestinos, jantares de gala, excursões por camarotes alheios, paixões explodindo no convés. Viajei num transatlântico, mês passado, lendo o excelente A casa do poeta trágico, de Carlos Heitor Cony, mas só embarco em ficção. Ao vivo e a cores, nem caiaque me atrai.
Posso estar enganada, mas viajar de navio deve ser o mesmo que viajar de hotel cinco estrelas. Você faz o check-in na portaria, recebe as chaves de seus aposentos e "teje preso": ninguém entra, ninguém sai. Ao se afastar lentamente da terra firme, você ainda mantém uma certa ilusão de que vai descansar, mas em seguida começa aquela obrigação infernal de se divertir. Toda a infraestrutura é voltada para o lazer. Antes de aportar no primeiro cais, você terá que nadar, dançar, jogar bingo, fazer sauna, apostar na roleta, comer, beber, comprar, malhar, tirar fotos e ser feliz. Não é uma cruz, mas você estará condenado a fazer tudo isso olhando para os mesmos rostos por semanas a fio. Uma Alcatraz de luxo.
Viajar de navio já não é programa de idoso: crianças e adolescentes estão sendo sutilmente atraídas para esse confinamento. Até a Disney já tem sua linha de cruzeiros, com barcos cheios de efeitos de computador. Pobres pais. Como convencer as crianças de que não há nada mais romântico do que uma viagem de trem, nada mais prático do que um boing e nada mais independente do que alugar um carro e criar o próprio roteiro? O que pode substituir uma bicicleta na Holanda, uma lambreta no sul da Itália e o metrô para percorrer o underground londrino? Isso sem falar nos próprios pés, melhor meio de transporte para quem quer conhecer de verdade algum lugar, seja ele qual for.
Talvez eu não tenha pego o espírito da coisa, mas não importa. Sigo reticente quanto a esses cruzeiros que enquadram os passageiros numa excursão, forçando a convivência pacífica. Transatlânticos parecem amostras grátis do mundo. Prefiro o original, que é maior e não afunda.
Outros textos de Martha Medeiros:
- Viajar para dentro
- A capacidade de se encantar
- Pequenas felicidades
- Um universo chamado aeroporto
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4 comentários
Esse texto (bem redigido por sinal) é o típico exemplo daqueles chatos de galocha que mesmo sem provar já não gostam.
ResponderExcluirEu que só faço cruzeiros de no mínimo 15 dias,discordo totalmente,descanso muito ,não tenho que me preocupar com nada ,alimentação,transporte ,diversão para todos os gostos e se ficar o dia inteiro na Cabine apenas apreciando o infinito ,lendo bacana também,ninguém poderia opinar sobre o que não conhece.
ResponderExcluir.*☆*.¸✽.*♡*.✿⊰✽⊱✿.*☆*.¸✽¸.*♡*.✿⊰✽✿.*☆*.¸✽¸.*♡*.
ResponderExcluirBom dia Silmara!
Vim bordar um recadinho desejando um excelente final de semana pra você e sua família. Quero me desculpar pela ausência, uma vez que tenho trabalhado bastante na minha campanha para conseguir o apoio da minha cidade de BH!
Veja como estou trabalhando, o apoio físico e o das redes sociais são muito importantes:
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Também gosto da autora, Sil. Não sei se gosto de cruzeiros, pois nunca participei de um. Não tenho muita vontade pois não gosto de mar, masss se algum dia acontecer... não me sentirei obrigada a nada. Aliás, nunca me sinto.
ResponderExcluirAbraço!
E você? O que pensa sobre isso?
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