MIS Experience
Muito além da Mona Lisa, a mais abrangente exposição itinerante sobre a vida e o legado do gênio Leonardo Da Vinci inaugurou o MIS Experience, em São Paulo, em 02/11/2019. Além de pintor, o artista foi escultor, cientista, inventor, filósofo, escritor, arquiteto, músico, cenógrafo... O evento não poderia receber nome melhor que "Leonardo Da Vinci: 500 anos de um gênio". Entre tantas invenções e engenhocas, até um protótipo do que hoje conhecemos como "bicicleta" ele imaginou há mais de cinco séculos.
Para dar vida à obra do gênio, as peças foram recriadas por artesãos italianos (seus compatriotas) que seguiram os esboços e códices deixados pelo mestre, driblando todas as dificuldades que Da Vinci acrescentava às suas invenções para protegê-las: erros propositais nas anotações, ideias soltas e informações contraditórias que lhe garantiam a 'patente' de suas criações. Algumas dessas anotações só podem ser decifradas diante de um espelho, por isso, a exposição tem uma sala de espelhos (uma pequena cabine, na verdade) em que o visitante experimenta a inusitada situação de se ver por todos os ângulos.
Em todas as salas da exposição, há frases - em português e em inglês - inspiradoras e deliciosamente reflexivas do mestre, por exemplo: "O prazer mais nobre é a alegria do entendimento". A minha preferida estava na sala que apresentava Da Vinci como pai da aviação por tentar criar asas que possibilitassem ao homem voar: "Uma vez que você tenha experimentado o voo, sempre andará na terra com os olhos voltados para o céu, pois lá você esteve e lá sempre desejará voltar." Diga se é ou não a cara de todo apaixonado pelas viagens? Lá vai mais uma: "O pé humano é uma obra de arte e uma obra-prima da engenharia". De onde vem essa comparação? Da paixão do mestre pela anatomia. Ele dissecava e desenhava corpos humanos secreta e apressadamente, pois a prática era proibida. Três séculos e meio mais tarde, seus desenhos ricos em detalhes serviram de base do atlas de anatomia clínica Gray's Anatomy.
As pinturas expostas são reproduções de alta qualidade, geralmente maiores que as originais justamente para aumentar o impacto provocado no visitante. A Mona Lisa, por exemplo, que tem como tamanho original 77 cm x 53 cm, na exposições ocupa paredes inteiras para que cada detalhe possa ser observado. Entre as obras representadas está La Bella Principessa, o mais recente item atribuído à autoria de Leonardo Da Vinci há pouco mais de duas décadas, o que ainda causa controvérsias entre os especialistas. Várias das obras mais significativas do gênio são projetadas em paredes e grandes painéis na sala mais deliciosa da exposição (primeira foto), onde os visitantes se sentam em bancos espalhados pelo espaço ou no chão, simplesmente para apreciar a arte secular.
Depois da sala gigante acontece a imersão no mundo de Mona Lisa, ou do "Retrato de Lisa Gherardini, esposa de Francesco Del Giocondo", como a pintura está nomeada no museu do Louve, em Paris, onde é visitada anualmente por mais de 9 milhões de pessoas. Entre curiosidades, descobertas e detalhes ampliados, o principal foco é mostrar que a Mona Lisa de hoje é bem diferente da pintura executada por Leonardo Da Vinci há 500 anos com cores vivas e delicadas que perderam o vigor e a luminosidade pelo efeito do tempo sobre os pigmentos e de várias restaurações, nem sempre bem sucedidas. Atualmente quem vai ao Louvre, onde a obra está protegida por uma redoma de vidro à prova de balas, enxerga predominantemente os tons de marrom e verde escuro até mesmo no céu que já foi azul e na pele rosada da dama retratada.
A obra mais popular de Leonardo Da Vinci nunca foi considerada concluída pelo gênio. Entre 1503 e 1519 (ano de morte do artista) recebeu vários retoques. O dedo indicador da mão direita, por exemplo, não foi finalizado pelo mestre. Os cílios e sobrancelhas de Mona Lisa desapareceram com o tempo sob o efeito dos produtos utilizados na restauração ou mesmo da despigmentação das linhas finas com que foram desenhados. O sorriso enigmático e os olhos que parecem seguir os apreciadores são significativamente diferentes hoje que quando foram pintados. O sorriso original (descoberto com infra-vermelho sob várias camadas de tinta) é mais expressivo e mais acentuado do que aquele que hoje se vê.
No século XIX, Mona Lisa pertenceu a Napoleão Bonaparte que, ao pendurar o quadro no quarto e no banheiro, fez com que o verniz próximo aos olhos e ao queixo fosse danificado pelo contato com a água. Essas manchas, que já foram equivocadamente interpretadas como sinais de que a dama retratada tinha colesterol alto, na verdade nada mais são que acidentes com o verniz.
La Gioconda (como é conhecida na Itália) já foi roubada, apedrejada e exposta no Metropolitan Museum of New York. Hoje é considerada valiosa demais para ser transportada, por isso, é mantida sob proteção acirrada no Museu do Louvre.
Na exposição do MIS Experience, é possível 'ser' Mona Lisa por alguns instantes e a experiência fotográfica é bem disputada. A Mônica Lisa, de Maurício de Sousa também está por lá, assim como toda a Turma da Mônica na releitura de A última ceia.
Além das visitas regulares, o MIS oferece visitas guiadas de 90 minutos de duração em dias e horários específicos que devem ser previamente agendados (consulte aqui) e se esgotam rapidamente. A parte externa do MIS é uma atração em si mesma ao trazer as releituras do Homem Vitruviano, da Mona Lisa e do próprio retrato de Leonardo Da Vinci recriados pelo muralista Eduardo Kobra, paulistano que tem sua arte urbana espalhada por cinco continentes. Eu tive um bônus na visita feita cinco dias após a inauguração do museu: pude apreciar o próprio Kobra terminando suas criações. Incrível!
Serviço
MIS Experience
Rua Vladimir Herzog, n.75 - Água Branca - SP
Terça a domingo, das 10h às 20:30h
Valores: terça-feira (grátis); quarta a sexta (R$30/R$15); sábados, domingos e feriados (R$40/R$20)
De 02/11/2019 a 1º/03/2020
Ingressos antecipados no site.
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