Cuba: um mundo em extinção
Depois, em 1959,
veio a Revolução, e os barbudos de Fidel Castro puseram um fim ao bacanal.
Durante décadas Cuba tornou-se inacessível ao turista ocidental. Uma espécie de
extensão do Muro de Berlim nas Caraíbas. Mas aos poucos
foi-se tornando possível a visita de estrangeiros e a queda da União Soviética,
no início dos anos 90, acelerou em definitivo as medidas de liberalização
tomadas pelo Regime.
A Cuba que hoje
vimos é bem diferente da que existia há vinte anos. E, arriscaria a dizer, é a
Cuba perfeita para o viajante: a beleza natural está lá, mas essa ficará
sempre. O toque de decadência também, com as fachadas degradadas, os velhos
carros norte-americanos, a simpatia das gentes... diria mesmo que há um
renascer do mundo que os "gringos" tanto apreciavam antes da
Revolução.
Mas é agora um
mundo em extinção. Em dezembro de 2014 foi anunciada ao mundo a aproximação dos
EUA e Cuba. Com ela, o fim das sanções e o levantamento do bloqueio. Ótimas
notícias para muitos, mas uma sentença de morte para grande parte do encanto e
do atrativo perfume que tem emanado de Cuba.
Adivinha-se uma
invasão pacífica, a chegada em massa dos turistas vindos da Florida, a
destruição do caráter singular deste país que a História se fez tão diferente. Os
velhos Chevy e Dodge desaparecerão das ruas, o centro de Havana tornar-se-á
idêntico a tantas outras cidades e os cubanos perderão a inocência e a simpatia
natural.
É por tudo isto
que se tornou urgente visitar Cuba. Agora. Antes que tudo isso suceda. Ainda é
possível tomar um táxi coletivo nas ruas de Havana, um carro daqueles antigos,
invariavelmente decadente, que funciona como um pequeno onibus, recolhendo e
largando passageiros ao longo de um percurso. O que num táxi normal custaria USD10, ali vai custar USD0,40 como um "coletivo". E não há como não conviver de
perto com as gentes locais, cruzar as ruas de Havana ao som da música
caraterística que sempre emana do rádio.
Os gelados, filhos daquele projeto louco que nasceu com a visita de um alto dignatário do governo a Itália, continuam a ser servidos, a 0,15 USD se o viajante pagar em moeda local, os
CUC. O governante em questão experimentou os famosos sorvetes italianos e
ficou decidido que essa iguaria seria a recompensa para os trabalhadores, o
doce numa vida amarga. Em Cuba nasceu o núcleo, uma venda de sorvetes que era a
maior do mundo. E que ainda hoje está lá, pronta para lhe servir o seu
sorvete.
A comida de rua é
ainda servida a preços inacreditáveis. Uma pequena pizza custa 0,30 USD, um
copo de suco de fruta cerca de 0,09 USD. Pode-se viver em Havana por um punhado
de dólares, se contar a despesa com o alojamento à parte.
O Malecon, a
avenida que corre junto ao mar, é ainda o ponto de reunião social, onde ao fim
da tarde os cubanos vão passear, namorar, pescar, tocar e escutar música, fazer
um pouco de desporto. Um local seguro, como todos em Cuba. Os níveis de crime
são tão baixos que não dá para considerar. É provável que com a mudança dos
ventos também isso venha a acabar.
Os trens ainda
vão correndo, com muita irregularidade, mas uma viagem neles é uma experiência
única. Uma possibilidade simples: cruzar as águas do porto de Havana na
embarcação e, do outro lado, num lugar chamado Casablanca, tomar o trem. É
essencial que se informe se o trem está funcionando, porque a mínima falha
mecânica implica semanas ou mesmo meses de paragem. Se tiver sorte, é mesmo
muita sorte. O passeio é uma viagem no tempo e no espaço, à ruralidade cubana.
Os companheiros de viagem serão camponeses que foram à cidade e estão de
regresso a casa e as crianças que vão para a escola. Pode ir e regressar no mesmo
trem, mas o melhor será regressar a meio caminho, porque a viagem apesar de não
ser longa é demorada.
Por todo o país,
e especialmente para a extremidade oriental, estamos perante um universo que
deixou de existir em todo o mundo. Uma espécie de museu vivo e genuíno. Talvez
o remoto Leste, como lhe chamam os cubanos, cuja cidade maior é Santiago de
Cuba, resista um pouco mais à invasão que se avizinha. É uma esperança.
A melhor época para visitar Cuba é entre novembro e janeiro. Evite os meses de agosto e setembro, período de furacões de violência imprevisível. Para encontrar os voosmais econômicos para Cuba poderá consultar o buscador de viagens Rumbo. Quanto
a alojamento, não há muitas hipóteses: os hotéis são quase todos geridos pelo
Estado e a relação entre preço e qualidade é reduzida.
É possível adquirir
um programa completo e ficar num resort all inclusive, mas para apreciar
verdadeiramente Cuba é aconselhável recorrer a "casas particulares",
pertencentes a cubanos que obtiveram do Estado uma autorização para alojar
estrangeiros. Descubra a diferença entre a Cuba dos cubanos e dos turistas.
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1 comentários
Olá, deve ser uma agradável viagem no tempo! Tenho muita vontade de conhecer. Acesse o blog: www.sramaia.blogspot.com
ResponderExcluirE você? O que pensa sobre isso?
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