São Paulo, 467 anos

ESCRITO POR: domingo, janeiro 24, 2021

 

Domingou no Ibira

        São Paulo está completando 467 anos em 2021 e para comemorar segue a crônica que Mário Viana escreveu sobre um dos maiores símbolos da paisagem paulistana: o Parque do Ibirapuera. Depois da crônica, assista ao tour virtual produzido pela Secretaria de Turismo do estado de São Paulo para quando puder visitar o parque não perder nenhum detalhe.

Domingou no Ibira
Mário Viana

        Começo pedindo desculpas aos fãs da Paulista Aberta – eu, entre eles -, mas a verdadeira cara de São Paulo se mostra todo mundo no parque do Ibirapuera. Vem gente de todo canto, figuras de todo tipo com a certeza de que serão bem recebidas nas alamedas lotadas de bikes, cães, atletas e preguiçosos. 

         Não há modelitos a seguir, o à-vontade impera. Lá estamos entre feios e bonitos, gordos e magros. Casais gays e crianças barulhentas, gringos e nativos. Tem de tudo, como sempre acontece em São Paulo. 

            Inaugurado em 1954, os 158 hectares do Parque do Ibirapuera parecem insuficientes para receber todo mundo que cruza seus portões aos domingos. Só em 2017, foram 14 milhões de visitantes, um número que seguramente nem passava pela cabeça do então prefeito da cidade, José Pires do Rio, quando, nos anos 1920, ele chegou a ventilar a ideia de criar um espaço nos moldes dos parques europeus na área antigamente ocupada por uma tribo indígena. A ideia afundou nas partes alagadiças da região. 

            Foi só em 1927 que a coisa começou a pegar. Um funcionário da prefeitura chamado Manequinho Lopes – o que dá nome ao viveiro – passou a plantar eucaliptos na região para ‘chupar’, a água. Resumindo a ópera: a ideia ressurgiu e, quando a cidade comemorava seu quarto centenário, foi inaugurado o parque que conhecemos hoje. 

        Tenho certeza que nenhum dos barulhentos skatistas que se exibem em manobras, às vezes geniais, outras vezes amadoras, sabe dessa história. Os casais de namorados, que embaralham pernas, braços e bocas nos gramados, também não pensam nisso. O que importa para eles é ter um espaço amplo e que possa ser chamado de seu, mesmo que por alguns breves rodopios e amassos. 

         A cidade respira e desfila no parque. Há quem vá para visitar os ótimos museus – o de Arte Moderna e ao Afro Brasil sempre com mostras atraentes, e o de Arte Contemporânea, que ocupa o antigo prédio do Detran, já fora do Ibira. Aliás, é do terraço dele que se tem uma vista linda do parque, vale a visita. Outros vão paquerar, fazer piquenique ou só bater perna. 

         Entre cerejeiras em flor e sabiás saltitantes, tudo é bacana e, ao mesmo tempo, caótico no domingão do Ibira. Outro dia - um domingo, claro -, encontrei a amiga Carla Jimenez, sentada, extasiada diante do algo. “Como é bom ficar contemplando, disse ela, que tinha ido a pé da Pompeia até lá. “A gente, às vezes, esquece de curtir a cidade”. 

        É claro que o domingo no parque não é uma amostra do paraíso. Se fosse, nem seria São Paulo. Tem banheiro cheio, faltam opções de lanche, alguns ciclistas acreditam que estão disputando medalha de ouro numa prova olímpica e de vez em quando dá trabalho convencer o dono daquele bloodhound de que seu pet é enorme e não merecia ser batizado de Pipoca. 

      O encontro e a convivência de universos tão desparatados é que dão o tom ao domingão. É a “cota de natureza” que saboreamos antes de voltar à rotina dos ônibus lotados, trânsito lento e contas a pagar. O sabia que saltitava poucos parágrafos acima continuará cantando em nossa memória por mais alguns dias, até que chegue outro domingo.

Texto publicado originalmente em: 


        Assista ao tour virtual pelo Parque do Ibirapuera apresentado pela guia de turismo Érika Shemann e divulgado no canal do Youtube da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo:

 
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